Um acidente de trânsito envolvendo uma ambulância, na tarde desta sexta-feira (21), deixou três pessoas mortas e três feridas, no quilômetro 22 da BR-232, em Moreno, no Grande Recife. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o motorista perdeu o controle, capotou e bateu em uma caminhonete em um carro, que faziam um serviço de internet no local.
Ainda de acordo com a PRF, morreu no local o paciente da ambulância, estava sendo levado do município de Terezinha, no Agreste, para um hospital do Grande Recife. Informações preliminares dão conta de que ele teria sofrido um infarto após a colisão.
Ambulância colidiu na traseira de um carro e de uma caminhonete em acidente em Moreno, no Grande Recife.
Também morreram dois funcionários de uma empresa de internet. Eles chegaram a ser socorridos pelo Corpo de Bombeiros e pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e levados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Curado, na Zona Oeste do Recife.
De acordo com a unidade de saúde, os homens foram identificados apenas como Severino e Otávio, pois estavam sem documentos. A UPA informou, ainda, que eles deram entrada às 14h30, já sem vida.
De acordo com os bombeiros, além do paciente que morreu, mais três pesoas estavam na ambulância que capotou. Eram o motorista, uma enfermeira e uma filha do doente.
O projeto Poeta Viagens e Aventura chegou ao estado da Bahia, dessa vez o objetivo foi conhecer in loco um pouco mais da história de Maria Bonita, que numa paixão fulminante por Lampião, ingressou no cangaço na década de 30.
A casa museu Maria Bonita tem recebido visitas de estudantes, estudiosos de várias partes do País e do exterior. Imagine você que na época que Lampião conheceu Maria Bonita, essa casa era rodeada de vegetação de caatinga, se via apenas um pouco do telhado da humilde residência.
Ao lado da casa museu de Maria Bonita tem uma pracinha debaixo de um pé de umbuzeiro que centenário e com sobrinhos de Maria Bonita pude ter muitas informações sobre o convívio da rendeira Maria de Deia.
Simbolizando a região, o carro de boi está retratado numa pequena maquete, onde na época era o segundo meio de transporte mais usado pelos sertanejos.
O umbuzeiro centenário mostra uma das belezas da caatinga. A casa museu Maria Bonita localizada no povoado Malhada da Caiçara foi recuperada na metade do ano de 1999 pela prefeitura municipal de Paulo Afonso.
Pelo menos dois seminários internacionais foram realizados na cidade de Paulo Afonso/BA, onde o objetivo foi retratar a importância de Maria Bonita diante na participação dela no Cangaço. Uma jovem de 20 anos apenas se aventurou pela caatinga ao lado do seu amado que era procurado pela polícia de vários estados do Nordeste.
Os sobrinhos Micael e Felipe que tem os sobrenomes Pereira e Gomes, conversando com esse blogueiro, afirmaram do orgulho que tem da tia que marcou toda uma história pelo mundo a fora.
Casa museu Maria Bonita é mantida pela arrecadação, ou seja, cada visitante paga-se R$ 5,00 para ter acesso a parte interna da casa, onde pode encontrar fotos e pertences da época de Maria Bonita.
Essa máquina de costura que está em um dos cômodos da casa é a mesma que Maria Bonita usava quando morou na Malhada da Caiçara. Segundo os sobrinhos, na época, essa casa era muito escondida na meio da caatinga e por uns 2 anos Maria Bonita ficou morando nessa casa, até tomar a decisão de seguir o marido no Cangaço.
Nessa foto está o cangaceiro Juriti (Homem de confiança de Lampião), ao lado de Maria Bonita. Maria liderava o grupo de mulheres que ingressaram no Cangaço.
Na foto acima: Maria Bonita, Juriti, Amoroso e capitão Lampião.
Nessa imagem da década de 30, Maria Bonita mostra seu poder de liderança, até mesmo para ser registrada.
Moça, Maria Bonita e Benjamim.
Foi Maria Bonita que quebrou o tabu para a entrada de mulheres no Cangaço. Corajosa, decidida e apaixonada, Maria de Deia, como era conhecida, chegou a ter uma filha com rei do Cangaço, porém, vários outros historiados relatam que pelo menos foram 03 filhos (Ananias Gomes de Oliveira, Arlindo Gomes de Oliveira e Expedita de Oliveira Ferreira Nunes)que o casal deixou quando foram mortos em 1938 após uma emboscada na Grota de Angico em Sergipe.
Micael Oliveira, Cláudio André e Feliphe Gomes
Você que deseja fazer um tour pela região que viveu o rei do Cangaço e sua amada, em especial a casa museu Maria de Deia, no povoado Malhada da Caiçara, você pode falar com um dos sobrinhos de Maria Bonita pelo whatsApp (75) 9 8824-6952 - Micael Oliveira.
A líder comunitária do sitio Amargoso, zona rural de Bom Conselho, Maria do Sindicato, como é conhecida, na manhã dessa quinta-feira, 20/12, sofreu uma queda de moto em frente a antiga Perdigão, situada as margens da PE-218. Segundo informações, Maria, sofreu uma forte pancada na cabeça, após sofrer uma queda da moto. Maria que estava na garupa de uma moto, ferida, foi socorrida para o Hospital Monsenhor Alfredo Dâmaso e em seguida transferida para o Hospital Dom Moura em Garanhuns com uma possível fratura no queixo.
Mas, somente depois de uma bateria de exames é que se saberá o diagnóstico oficial. Na hora da queda, Maria do Sindicato, não usava capacete.
Girando pela zona rural de Terezinha, mais precisamente pelo sítio Panasco, registrei esse início do entardecer, um verdadeiro espetáculo da natureza.
O dia indo embora, os raios do sol sendo complacente para conosco. Isso muito me fascina, me faz refletir e ao mesmo tempo contemplar a obra do Criado do Universo.
É importante lembrar que não existe mistério por trás dessa nascente, apenas entender que o lençol freático da região é muito rico água. As rochas são apenas filtros para deixar a água limpa e com serventia para o consumo humano.
A nascente perene localizada na zona rural do município de Terezinha, deixa evidente que a natureza é sábia, que sabe contribuir no seu devido tempo. A fonte d'água na propriedade do senhor Zé Monteiro é uma benção, onde pelo menos 60 famílias são beneficiadas diretamente.
No sítio Panasco há essa nascente na propriedade rural do senhor Zé Monteiro
Existem rochas que podem armazenar água, como gase e até petróleo. No geral são rochas POROSAS, a água fica entre esses poros. Essa água pode sair sim da rocha, se houver fissuras, ou relevo inclinado, ou num vale... De diversas outras maneiras. O nome da ciência que estuda essas características mais a fundo é a Hidrogeologia.
Você já ouviu falar no sítio Panasco? Não? Pois bem, fica na zona rural do município de Terezinha, agreste meridional de Pernambuco. Há 3 mil metros da sede do município você encontra uma nascente d'água que é perene. A água sai de dentro de uma pequena rocha e logo o acúmulo d'água se transforma num grande lago.
De perto pude perceber o quanto a natureza nos ensina e nos educa. Cuidar dos mananciais é o melhor caminho.
Há 03 km do centro da cidade de Terezinha tem o sítio Panasco e numa propriedade rural tem uma nascente que verte água de uma pedra. As águas do subsolo estão sendo utilizadas pelo homem desde os primórdios das civilizações, muito embora haja evidências apenas em torno de 12.000 anos a.C.
O Velho Testamento é rico em passagens interessantes, como a de Moisés, que batendo com seu cajado na pedra, fez jorrar água, referindo-se a uma fonte. Cita também o poço de José, no Cairo, com 90 metros de profundidade.
Há cerca de 5.000 anos a.C os chineses já perfuravam poços com mais de 100 metros de profundidade, utilizando-se de equipamentos confeccionados com bambu.
A fonte d'água fica na propriedade do senhor Zé Monteiro, agricultor que colabora com os mais de 60 moradores do sítio Panasco doando água gratuitamente. Á água é doce e serve para o consumo humano. O projeto Poeta Viagens e Aventura descobriu essa nascente no município de Terezinha.
A convite do senhor Donizete (chapéu de coro), fomos conhecer a fonte de água doce do senhor Zé Monteiro. A rocha cravada no solo, sem nenhum reflorestamento por perto, brota água ininterruptamente, tornando a fonte perene. Segundo os especialistas, todo olho da água é entre rochas. Cerca de 61% da população brasileira é abastecida para fins domésticos por águas subterrâneas, sendo 6% por poços rasos, 12% por fontes e 43% por poços profundos. Em torno de 15,6% dos domicílios utilizam exclusivamente água subterrânea.
A propriedade do senhor Zé Monteiro tem pelo menos mais 03 nascentes perenes. Entra inverno, sai verão e as fontes naturais nunca secam. Em 15 hectares de terra, da para perceber que o lençol freático é muito rico, eis um dos motivos de verter tanta água numa única propriedade rural. As águas subterrâneas representam a fração do Ciclo Hidrológico que “(…) ocorre naturalmente ou artificialmente no subsolo″. O volume total dessas águas, que podem ser doces, salobras ou salgadas, é de cerca de 23,4 milhões de km³. Desse volume se destaca uma parcela de 12,8 milhões de km³ de água doce, o que corresponde a 96% do volume de água doce economicamente disponível no planeta.
A tonalidade da água é azul, mas, seu gosto é de pura água doce...
A água das chuvas que penetram no solo, vão para os lençóis freáticos (baixa profundidade) ou para os aquíferos (alta profundidade). Quando aumenta a pressão, a água sai entre as rochas, e forma o que chamamos de nascentes. Ela sai por uma fissura criada em uma rocha por causa da pressão. Ela também pode sair da terra com a pressão formada no solo, como o geiser.
Igrejinha bi-centenária do sítio Santo Antônio, Terezinha, Pernambuco
O sitio Santo Antônio pertence ao município de Terezinha, está a 4 km do centro da cidade. Na comunidade mora cerca de 48 famílias que vive da agricultura.
A igrejinha bi-centenária que recebe o nome do padroeiro marca o início da povoação. Antes, a comunidade era conhecida por sítio Veados, devido a existência de animais silvestres na região, mas, com o passar dos anos, já no cadastramento por agentes de saúde, o sítio passou a ficar conhecido como Santo Antônio.
A igrejinha de Santo Antônio no seu início era uma pequena casa de taipa e com o passar do tempo foi construída apenas uma casinha de oração. As terras onde está a construção mais antiga do município pertence a família Quirino.
No mês de junho de cada ano acontece a tradicional festa do santo casamenteiro, Santo Antônio.
Hoje, o morador mais antigo é o senhor Pedro Alves da Costa, mais conhecido por Pedro de Lite, com 93 anos de idade.
No sítio Santo Antônio, zona rural de Terezinha, tem o mais novo restaurante caseiro do município, Sabores da Terra. Reúna seus amigos, faça sua confraternização no restaurante Sabores da Terra. Quer saber mais? Ligue para (87) 9 8153-5255 (WhatsApp).
Sob o comando do amigo Donizete e família, o restaurante Sabores da Terra serve pirão de peixe, pirão de galinha, tripa assada, carne de sol com queijo coalho, frango gratinado, porco, calabresa, pão de alho e bebidas quentes e geladas. O atendimento é do jeito que você merece.
Como Chegar: Seguir pela rodovia PE-218, entrar a direita (sentido Bom Conselho -Terezinha), após a casa do vereador Reginaldo, no Pacheco, seguir sentido ao sítio Santo Antônio, passar por dois mata-burros, após a igrejinha, 50 metros para frente logo se chega ao restaurante Sabores do Nordeste.
O deputado estadual Alberto Feitosa (SD), presidente da Comissão Especial de Segurança Pública, instalada na Assembleia Legislativa, apresentou na última segunda (17), com o relator Júlio Cavalcanti (PTB), o relatório final produzido pelo comitê que traz propostas relativas ao combate da violência.
Segundo o documento, após a escuta de diferentes profissionais e estudiosos da área, as ações devem ser voltadas para a repressão qualificada, prevenção à violência, política de drogas, sistema prisional e o financiamento da segurança pública.
Como resultado, dois Projetos de Lei também estão sendo apresentados. O documento será encaminhado o Governo Federal, para o Senado, Câmara e Governo de Pernambuco. Também poderá ser encontrado no site da Alepe.
O relatório traz números alarmantes sobre a violência no Brasil. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018, só no ano passado, 63.880 pessoas foram assassinadas, 60.018 foi o total de estupros, 221.238 casos de violência doméstica e 543.991 roubos e furtos praticados no país. Ganham destaque também o poderio das organizações criminosas que, de maneira cada vez mais sofisticada, controlam o tráfico de drogas; e as 726.712 pessoas que cumprem pena, a maioria de forma subumanas, sem condições necessárias à ressocialização nas penitenciárias brasileiras.
Foi consenso entre os especialistas consultados o impacto positivo das políticas de prevenção à violência sobre a redução da criminalidade. Para eles, também é importante destacar a visão de que os municípios são os atores mais adequados para desenvolver ações de prevenção, em razão da sua proximidade com o território e com o público-alvo das ações. Fica proposta a alteração da legislação estadual para incentivar os municípios a adotarem políticas de segurança e de prevenção à violência.
Para isso, o documento traz dois Projetos de Lei, um deles modificando os percentuais do ICMS a serem distribuídos aos municípios de acordo com o critério de segurança pública, saindo de 1% para 2%, a parte relativa ao Selo Pacto pela Vida (SPPV). O outro cria novos critérios para a concessão do SPPV e Redução da Criminalidade nos Municípios.
Só sete dos 81 senadores abdicaram de receber, até o momento, os R$ 33,7 mil de auxílio-mudança pagos no início e no término do mandato. Para bancar o benefício, a Casa reservou R$ 3,6 milhões, dos quais metade vai para os que estão de saída.
Os senadores Ana Amélia (PP), Eduardo Braga (MDB), Randolfe Rodrigues (Rede) e Paulo Paim (PT) abriram mão da ajuda de custo do fim do período. Já Major Olímpio (PSL), Mara Gabrilli (PSDB), Oriovisto Guimarães (Pode) e novamente Eduardo Braga recusaram o montante para o começo dos trabalhos.
Éramos três. Major Olímpio e Mara Gabrilli também renunciaram à ajuda de custo pelo término do mandato de deputado federal. Na Câmara, além deles, apenas Elvino Bohn Gass (PT-RS) abdicou da verba. A Casa tem 513 parlamentares.
É festa! O auxílio-mudança é pago a senadores e deputados que têm casa em Brasília e não pretendem se mudar. Os que se reelegeram recebem o valor duplicado. O “penduricalho” está previsto desde 2014.
Acusado de matar travesti em Palmeira dos Índios vai a júri nesta quarta (19).
A 4ª Vara de Palmeira dos Índios leva a júri popular, nesta quarta-feira (19), o réu Cícero Pereira dos Santos, acusado de matar, a facadas, uma travesti, em agosto de 2017.
A sessão terá início às 9h, no auditório da Faculdade Cesmac do Sertão, e será presidida pela juíza Carolina Sampaio Valões da Rocha.
O réu e a vítima, Mary Montylla, de 26 anos, teriam se desentendido em um bar. De acordo com os autos, ela deu um tapa em Cícero após ele supostamente tê-la assediado.
Depois do ocorrido, a vítima foi perseguida pelo réu e pelo enteado dele, Leandro Batista de Souza. Mary Montylla recebeu diversos golpes de faca e não resistiu aos ferimentos.
O Ministério Público pede a condenação de Cícero Pereira dos Santos por homicídio duplamente qualificado,com as qualificadoras de motivo fútil e uso de tortura na prática do crime. Já a defesa do acusado sustentou, nas alegações finais, que ele cometeu o ato “sob efeito de violenta emoção, perdendo o controle de suas faculdades emocionais e psicológicas em decorrência das agressões sofridas anteriormente pelas desavenças com a vítima”.
O enteado Leandro Batista de Souza, que teria segurado a vítima durante a agressão, também foi denunciado, mas não será julgado nesta quarta porque o seu processo foi desmembrado (separado) do de Cícero Pereira dos Santos.
Matéria referente ao processo nº 0701141-48.2017.8.02.0046
As vezes algumas pessoas perguntam por que eu só crítico o governo municipal e não elogio, aí respondo, vejam se ele mostra ou divulga em suas propaganda que os estagiários do município em sua grande maioria que trabalham na educação, está sem receber seus salários há mais de quatro meses, não vejo ele falar isso porém o que vejo sempre é dizer que as folhas de pagamentos estão todas em dias aí percebo que não tá, pois estagiários também tem que fazer parte da folha municipal, e aí como fica estes trabalhadores mesmo sendo estagiários também tem direitos de receber em dias e não estão, e aí é justo eles trabalharem e não receber e sequer quando procuram saber se vão receber, nem data de receber tem, parece que isso já praxe neste governo, usar estagiário o quanto pode,espero que o governo se sensibilize e honre suas obrigações por que isso pra mim é desrespeito as eles que trabalha e a suas famílias, Pois a parte deles eles já fizeram, espero em Deus que o governo cumpra sua.
No último mês de novembro estive conhecendo e pesquisando sobre a vida pregressa do maior cangaceiro do Nordeste brasileiro, Vurgulino Ferreira. Fui conhecer a casa onde Virgulino Ferreira viveu sua infância e construí um banco de informações sobre o Cangaço que perdurou por 18 anos (1920-1938).
O QUE DIZ A HISTÓRIA
Eles faziam do assassinato um ritual macabro. O longo punhal, de até 80 centímetros de comprimento, era enfiado com um golpe certeiro na base da clavícula – a popular “saboneteira” – da vítima.
A lâmina pontiaguda cortava a carne, seccionava artérias, perfurava o pulmão, trespassava o coração e, ao ser retirada, produzia um esguicho espetaculoso de sangue. Era um policial ou um delator a menos na caatinga – e um morto a mais na contabilidade do cangaço.
Quando não matavam, faziam questão de ferir, de mutilar, de deixar cicatrizes visíveis, para que as marcas da violência servissem de exemplo.
Desenhavam a faca feridas profundas em forma de cruz na testa de homens, desfiguravam o rosto de mulheres com ferro quente de marcar o gado.
Lampião, o segundo que está sentado da esquerda para direita, nos primeiros tempos do cangaço – Fonte –http://www.1000dias.com
Quase 80 anos após a morte do principal líder do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, a aura de heroísmo que durante algum tempo tentou-se atribuir aos cangaceiros cede terreno para uma interpretação menos idealizada do fenômeno.
Uma série de livros, teses e dissertações acadêmicas lançados nos últimos anos defende que não faz sentido cultuar o mito de um Lampião idealista, um revolucionário primitivo, insurgente contra a opressão do latifúndio e a injustiça do sertão nordestino.
Virgulino não seria um justiceiro romântico, um Robin Hood da caatinga, mas um criminoso cruel e sanguinário, aliado de coronéis e grandes proprietários de terra.
Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje sequestram, matam e corrompem nas grandes metrópoles do país. Guardadas as devidas proporções, o cangaço foi algo como o PCC dos anos 1930.
Outro grande chefe cangaceiro foi Corisco, o primeiro a esquerda, tendo ao seu lado a companheira Dadá e integrantes do seu grupo – Fonte – Coleção do autor
Cangaceiros e traficantes
Foram os cangaceiros que introduziram o sequestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas.
A extorsão era outra fonte de renda. Mandavam cartas, nas quais exigiam quantias astronômicas para não invadir cidades, atear fogo em casas e derramar sangue inocente. Ofereciam salvo-condutos, com os quais garantiam proteção a quem lhes desse abrigo e cobertura, os chamados coiteiros.
Sempre foram implacáveis com quem atravessava seu caminho: estupravam, castravam, aterrorizavam. Corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição.
Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.
“A violência é mais perversa e explícita onde está o maior contingente de população pobre e excluída. Antes o banditismo se dava no campo; hoje o crime organizado é mais evidente na periferia dos centros urbanos”, afirma a antropóloga Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e autora do livro A Derradeira Gesta:Lampião e Nazarenos Guerreando no Sertão.
A professora aponta semelhanças entre os métodos dos cangaceiros e dos traficantes:
“A maioria dos moradores das favelas de hoje não é composta por marginais. No sertão, os cangaceiros também eram minoria. Mas, nos dois casos, a população honesta e trabalhadora se vê submetida ao regime de terror imposto pelos bandidos, que ditam as regras e vivem à custa do medo coletivo”.
Além do medo, os cangaceiros exerciam fascínio entre os sertanejos. Entrar para o cangaço representava, para um jovem da caatinga, ascensão social.
Significava o ingresso em uma comunidade de homens que se gabavam de sua audácia e coragem, indivíduos que trocavam a modorra da vida camponesa por um cotidiano repleto de aventuras e perigos. Era uma via de acesso ao dinheiro rápido e sujo de sangue, conquistado a ferro e a fogo.
“São evidentes as correlações de procedimentos entre cangaceiros de ontem e traficantes de hoje. A rigor, são velhos professores e modernos discípulos”, afirma o pesquisador do tema Melquíades Pinto Paiva, autor de Ecologia do Cangaço e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Homem e lenda
Virgulino Ferreira da Silva reinou na caatinga entre 1920 e 1938. A origem do cangaço, porém, perde-se no tempo. Muito antes dele, desde o século 18, já existiam bandos armados agindo no sertão, particularmente na área onde vingou o ciclo do gado no Nordeste, território onde campeava a violência, a lei dos coronéis, a miséria e a seca.
A palavra cangaço, segundo a maioria dos autores, derivou de “canga”, peça de madeira colocada sobre o pescoço dos bois de carga. Assim como o gado, os bandoleiros carregavam os pertences nos ombros.
Um dos precursores do cangaço foi o lendário José Gomes, o endiabrado Cabeleira, que aterrorizou as terras pernambucanas por volta de 1775.
Outro que marcou época foi o potiguar Jesuíno Alves de Melo Calado, o Jesuíno Brilhante (1844-1879), famoso por distribuir entre os pobres os alimentos que saqueava dos comboios do governo.
Mas o primeiro a merecer o título de Rei do Cangaço, pela ousadia de suas ações, foi o pernambucano Antônio Silvino (1875-1944), o Rifle de Ouro.
Entre suas façanhas, arrancou os trilhos, perseguiu engenheiros e sequestrou funcionários da Great Western, empresa inglesa que construía ferrovias no interior da Paraíba.
Bonnie e Clyde do sertão
O amor de Maria Bonita e Lampião provocou uma revolução no cotidiano dos cangaceiros.
O que uma paixão não faz na vida de um homem...
Uma sertaneja amoleceu o coração de pedra do Rei do Cangaço. Foi Maria Gomes de Oliveira, a Maria Déa, também conhecida como Maria Bonita.
Separada do antigo marido, o sapateiro José Miguel da Silva, o Zé de Neném, foi a primeira mulher a entrar no cangaço. Antes dela, outros bandoleiros chegaram a ter mulher e filhos, mas nenhuma esposa até então havia ousado seguir o companheiro na vida errante no meio da caatinga.
O primeiro encontro entre os dois foi em 1929, em Malhada de Caiçara (BA), na casa dos pais de Maria, então com 17 anos e sobrinha de um coiteiro de Virgulino.
No ano seguinte, a moça largou a família e aderiu ao cangaço, para viver ao lado do homem amado. Quando soube da notícia, o velho mestre de Lampião, Sinhô Pereira, estranhou.
Ele nunca permitira a presença de mulheres no bando. Imaginava que elas só trariam a discórdia e o ciúme entre seus “cabras”. Mas, depois da chegada de Maria Déa, em 1930, muitos outros cangaceiros seguiram o exemplo do chefe.
Mulher cangaceira não cozinhava, não lavava roupa e, como ninguém no cangaço possuía casa, também não tinha outras obrigações domésticas.
No acampamento, cozinhar e lavar era tarefa reservada aos homens.
Lampião e Maria Bonita – Fonte – blogdomendesemendes.blogspot.com
Elas também só faziam amor, não faziam a guerra: à exceção de Sila, mulher do cangaceiro Zé Sereno, não participavam dos combates – e com Maria Bonita não foi diferente.
O papel que lhes cabia era o de fazer companhia a seus homens. Os filhos que iam nascendo eram entregues para ser criados por coiteiros.
Lampião e Maria tiveram uma filha, Expedita, nascida em 1932. Dois anos antes, aquele que seria o primogênito do casal nascera morto, em 1930.
Cangaceiros – Fonte – http://www.grupoimagem.org.brAS CONFUSÕES DE CASAIS
Entre os casais, a infidelidade era punida dentro da noção de honra da caatinga: o cangaceiro Zé Baiano matou a mulher, Lídia, a golpes de cacete, quando descobriu que ela o traíra com o colega Bem-Te-Vi.
Outro companheiro de bando, Moita Brava, pegou a companheira Lili em amores com o cabra Pó Corante. Assassinou-a com seis tiros à queima-roupa. A chegada das mulheres coincidiu com o período de decadência do cangaço.
A INFLUÊNCIA DE MARIA BONITA
Desde que passou a ter Maria Bonita a seu lado, Lampião alterou a vida de eterno nômade por momentos cada vez mais alongados de repouso, especialmente em Sergipe. A influência de Maria Déa sobre o cangaceiro era visível. “Lampião mostrava-se bem mudado. Sua agressividade se diluía nos braços de Maria Déa”, afirma o pesquisador Pernambucano de Mello.
Estive na Grota de Angico, zona rural de Poço Redondo, sertão sergipano, fazendo uma pesquisa sobre a morte de Lampião. Foi nesse local que acabou há 80 anos o Cangaço que era liderado por Virgulino Ferreira. Nessa época Lampião tinha seus 41 anos de idade.
Foi em um desses momentos de pausa e idílio no sertão sergipano que o rei do Cangaço acabou sendo surpreendido e morto, na Grota do Angico, em 1938, depois da batalha contra as tropas do tenente José Bezerra. Conta-se que, quando lhe deceparam a cabeça, a mais célebre de todas as cangaceiras estava ferida, mas ainda viva.
Fonte – nosrevista.com.br
Lampião sempre afirmou que entrou na vida de bandido para vingar o assassinato do pai. José Ferreira, condutor de animais de carga e pequeno fazendeiro em Serra Talhada (PE), foi morto em 1920 pelo sargento de polícia José Lucena, após uma série de hostilidades entre a família Ferreira e o vizinho José Saturnino.
Estive conhecendo as ruínas da casa onde morou Zé Saturnino, responsável pela fúria de Virgulino Ferreira. O casarão de fazenda resta apenas um única parede, o resto foi demolido pelo tempo. Em 1922, Lampião foi com mais de 20 cangaceiros vingar-se da morte do pai que foi assassinado a mando do antigo vizinho de terras, Zé Saturnino.
No sertão daquele tempo, a vingança e a honra ofendida caminhavam lado a lado. Fazer justiça com as próprias mãos era considerado legítimo e a ausência de vingança era entendida como sintoma de frouxidão moral.
“Na minha terra,/ o cangaceiro é leal e valente:/ jura que vai matar e mata”, diz o poema “Terra Bárbara”, do cearense Jáder de Carvalho (1901-1985).
No mesmo ano de 1920, Virgulino Ferreira entrou para o grupo de outro cangaceiro célebre, Sebastião Pereira e Silva, o Sinhô Pereira – segundo alguns autores, quem o apelidou de Lampião.
Como tudo na biografia do pernambucano, é controverso o motivo do codinome. Há quem diga que o batismo se deveu ao fato de ele manejar o rifle com tanta rapidez e destreza que os tiros sucessivos iluminavam a noite.
O olho direito, cego por decorrência de um glaucoma, agravado por um acidente com um espinho da caatinga, não lhe prejudicou a pontaria.
Outros acreditam na versão atribuída a Sinhô Pereira, segundo a qual Virgulino teria usado o clarão de um disparo para encontrar um cigarro que um colega havia deixado cair no chão.
O cangaço não tinha um líder de destaque desde 1914, quando Antônio Silvino foi preso após um combate com a polícia. Só a partir de 1922, após assumir o bando de Sinhô Pereira, Virgulino se tornaria o líder máximo dos cangaceiros.
Exímio estrategista, Lampião distinguiu-se pela valentia nas pelejas com a polícia, como em 1927, em Riacho de Sangue, durante um embate com os homens liderados pelo major cearense Moisés Figueiredo.
A PRIMEIRA VITÓRIA
Os 50 homens de Lampião foram cercados por 400 policiais. O tiroteio corria solto e a vitória da polícia era iminente. Lampião ordenou o cessar-fogo e o silêncio sepulcral de seu bando.
A polícia caiu na armadilha. Avançou e, ao chegar perto, foi recebida com fogo cerrado. Surpreendidos, os soldados bateram em retirada.
A capacidade de despistar os perseguidores lhe valeu a fama de possuir poderes sobrenaturais e, após escapar de inúmeras emboscadas, de ter o corpo fechado.
No mesmo mês da tocaia de Riacho de Sangue, Lampião e seu bando caíram em nova emboscada. Um traidor ofereceu-lhes um jantar envenenado, numa casa cercada por policiais.
Quando os primeiros cangaceiros começaram a passar mal, Virgulino se deu conta da tramoia e tentou fugir, mas viu-se acuado por um incêndio proposital na mata.
O que era para ser uma arapuca terminou por salvar a pele dos cangaceiros: desapareceram na fumaça, como por encanto.
Alegria dos cangaceiros para a câmera
Mas o maior trunfo de Lampião foi o de cultivar uma grande rede de coiteiros. Isso garantiu a longevidade de sua carreira e a extensão de seu domínio. A atuação de seu bando estendeu-se por Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Lampião chegou a comandar um exército nômade de mais de 100 homens, quase sempre distribuídos em subgrupos, o que dava mobilidade e dificultava a ação da polícia.
DIVIDIR PERNAMBUCO AO MEIO
Em 1926, em tom de desafio e zombaria, chegou a enviar uma carta ao governador de Pernambuco, Júlio de Melo, propondo a divisão do estado em duas partes. Júlio de Melo que se contentasse com uma. Lampião, autoproclamado “Governador do Sertão”, mandaria na outra.
Lampião – Fonte – lounge.obviousmag.org
Há divergências – e discussões apaixonadas – em torno da figura histórica de Virgulino. Ele comandava sessões de estupro coletivo ou, ao contrário, punia indivíduos do bando que violentavam mulheres? Castrava inimigos, como faziam outros tantos envolvidos no cangaço? Há controvérsias. “Lampião não era um demônio nem um herói.
Era um cangaceiro. Muitas das crueldades imputadas a ele foram praticadas por indivíduos de outros bandos. Os ex-cangaceiros que chegaram a da entrevistas a meios de comunicação, nenhum confirmou histórias a respeito de estupros e castrações executadas pessoalmente por Lampião”, diz o pesquisador Amaury Corrêa de Araújo, autor de sete livros sobre o cangaço.
As narrativas de velhos cangaceiros contrapõem-se à versão publicada pelos jornais da época, que geralmente tinham a polícia como principal fonte.
Com tantas histórias e estórias a cercar a figura de Lampião, torna-se difícil separar o homem da lenda. “Acho que está justamente aí, nessa multiplicidade de olhares e versões, a grande força do personagem que ele foi.
É isso que nos ajuda inclusive a entender sua dimensão como mito”, explica a historiadora francesa Élise Grunspan-Jasmin, autora de Lampião: Senhor do Sertão (Edusp).
Bandido social?
Já foi moeda corrente entre os especialistas interpretar o “Rei do Cangaço” como um “bandido social”, expressão criada pelo historiador inglês Eric Hobsbawm para definir os fora-da-lei que surgiam nas sociedades agrárias em transição para o capitalismo.
Em Bandidos (Forense Universitário), de 1975, Hobsbawn cita Lampião, Robin Hood e Jesse James como exemplos de nobres salteadores, vingadores ousados, defensores dos oprimidos.
Marcas do cangaço – Cabeças cortadas e uma estética própria nos equipamentos – Na foto acima vemos as cabeças dos cangaceiros Mariano, Pai Véio e Zeppelin, mortos em 25 de outubro de 1936, na fazenda Cangalexo, Porto da Folha, Sergipe.
A imagem revolucionária começou a se desenhar em 1935, quando a Aliança Nacional Libertadora citou Virgulino como um de seus inspiradores políticos.
A tese foi reforçada em 1963 com o lançamento de um clássico sobre o tema, Cangaceiros e Fanáticos, no qual o autor, Rui Facó, justifica a violência física do cangaço como uma resposta à violência social.
Na mesma época, o deputado federal Francisco Julião, representante das Ligas Camponesas e militante político pela reforma agrária, declarava que Lampião era “o primeiro homem do Nordeste a batalhar contra o latifúndio e a arbitrariedade”.
Sítio Passagem das Pedras, zona rural de Serra Talhada, antiga Vila Bela, onde Lampião viveu sua infância.
“Lampião não era um revolucionário. Sua vontade não era agir sobre o mundo para lhe impor mais justiça, mas usar o mundo em seu proveito”, afirma a também a historiadora Grunspan-Jasmin, fazendo coro a um dos maiores especialistas do cangaço da atualidade, Frederico Pernambucano de Mello.
Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e autor de Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste Brasileiro, Mello diz que o cangaceiro e o coronel não eram rivais.
OS MAIORES COITEIROS
Os coronéis ofereciam armas e proteção aos cangaceiros, que, em troca, forneciam serviço de milícia. Dois dos maiores coiteiros de Lampião foram homens poderosos: o coronel baiano Petronilo de Alcântara Reis e o capitão do Exército Eronildes de Carvalho, que viria a ser governador de Alagoas. “Aprecio de preferência as classes conservadoras: agricultores, fazendeiros, comerciantes”, disse Virgulino em uma entrevista de 1926.
Marqueteiro da caatinga
A ideia de que Lampião fosse um vingador também é contestada por Mello. Ele argumenta que, em quase 20 anos de cangaço, Lampião nunca teria se esforçado para se vingar de Lucena e Saturnino, o policial e o antigo vizinho responsáveis pelo assassinato de seu pai.
De acordo com um dos homens de Virgulino, Miguel Feitosa, o Medalha, Saturnino chegara a mandar um uniforme e um corte de tecido com o objetivo de selar a paz entre eles. Um portador teria agradecido por Lampião.
O mesmo Medalha dizia que o ex-soldado Pedro Barbosa da Cruz propôs matar Lucena por dinheiro. “Deixe disso, essas são questões velhas”, teria respondido Lampião.
Segundo o autor de Guerreiros do Sol, os cangaceiros usavam o discurso de vinganças pessoais e gestos de caridade como “escudos éticos” para os atos de banditismo.
Exposição macabra de cangaceiros do bando de Lampião que foram mortos por civis liderados por Antonio Manuel Filho, o Tenente Antonio de Amélia, que cumpriu a promessa de vingar a morte de um amigo.Em pé amarrados a troncos de madeira estão os corpos dos quatro cangaceiros: Suspeita, Limoeiro, Fortaleza, Medalha e no caixão abaixo o corpo de Félix Alves, um civil que morreu durante o combate – Fonte – http://beradeirocurioso.blogspot.com.br/2014/08/10-fotos-marcantes-e-as-historias-por_24.html
Apesar da vida árdua, quem entrava no cangaço dificilmente conseguia (ou queria) sair dele. Havia um notório orgulho de pertencer aos bandos, revelado também na indumentária dos cangaceiros.
O excesso de adereços, os enfeites nos chapéus, os bordados coloridos foram típicos dos momentos finais do cangaço. Lampião era um homem bem preocupado com sua imagem pública, o que colaborou para que permanecesse na memória nacional. O Rei do Cangaço também era o rei do marketing pessoal.
Assim como adorava aparecer em jornais e revistas, deixando-se inclusive fotografar e até filmar, fazia de seu traje de guerreiro uma ostensiva e vaidosa marca registrada. “Nisso, talvez apenas o cavaleiro medieval europeu ou o samurai oriental possa rivalizar com o nosso capitão do cangaço”, escreveu Pernambucano de Mello.
A antropóloga Luitgarde Barros enxerga aí um outro ponto em comum com a bandidagem atual: “Os traficantes também gostam de ostentar sua condição de bandidos e possuem um código visual característico, composto por capuzes e tatuagens de caveiras espalhadas pelo corpo”.
A violência policial é outro aspecto que aproxima o universo de Lampião do mundo do tráfico. Como ocorre hoje nas favelas dominadas pelo crime organizado, a truculência dos bandoleiros sertanejos só encontrava equivalência na brutalidade das volantes – as forças policiais cujos soldados eram apelidados pelos cangaceiros de “macacos”.
Nos tempos áureos do cangaço, não havia grandes diferenças entre a ação de bandidos e soldados. Não raro, eles se trajavam do mesmo modo – o que chegava a provocar confusões – e uns se bandeavam para o lado dos outros. Cangaceiros como Clementino José Furtado, o Quelé, abandonaram o grupo e foram cerrar fileiras em meio às volantes. O bandido Mormaço fez o movimento contrário. Havia sido corneteiro da polícia antes de aderir a Lampião.
Cangaceiros mortos em Angicos. Foto colorida por Rubens Antônio – Fonte –http://www.jeremoabo.com.br/web/index.php/noticias/21-politica/1866-semana-do-cangaco-de-piranhas-sera-de-24-a-27-de-julho
Como é comum à história da maioria dos criminosos, uma morte trágica e violenta marcou o fim dos dias de Virgulino. Traído por um de seus coiteiros de confiança, Pedro de Cândida, que foi torturado pela polícia para denunciar o paradeiro do bando, Lampião acabou surpreendido em seu esconderijo na Grota do Angico, Sergipe, em 28 de julho de 1938.
Foi nesse local que Lampião e Maria Bonita estava com sua tenda armada (um pedaço de lona estendido entre a rocha e o tronco de uma árvore). Uma noite antes de ser morto, Lampião, mais nove cangaceiros fizeram um forró que invadiu a madrugada ...
Depois de uma batalha de apenas 15 minutos contra as tropas do tenente José Bezerra, 11 cangaceiros tombaram no campo de batalha.
Todos eles tiveram os corpos degolados pela polícia, inclusive Lampião e Maria Bonita. Durante mais de 30 anos, as cabeças dos dois permaneceram insepultas.
Em 1969, elas ainda estavam no museu Nina Rodrigues, na Bahia, quando foram finalmente enterradas, a pedido de familiares do casal mais mitológico – e temido – do cangaço.
Os verdadeiros cangaceiros.
Artimanhas do cangaço
As estratégias e técnicas para despistar os inimigos
Embora seja inadequado referir-se aos cangaceiros como guerrilheiros – eles não tinham nenhum propósito político –, é inegável que lançaram mão de táticas típicas da guerrilha.
Habituados a viver na caatinga, não eram presa fácil para a polícia, especialmente para as unidades deslocadas das cidades com a missão de combatê-los no sertão.
Uma das maiores dificuldades de enfrentá-los era a de que preferiam ataques rápidos e ferozes, que surpreendiam o adversário.
Também não tinham qualquer cerimônia em fugir quando se viam acuados. Houve quem confundisse isso com covardia. Era estratégia cangaceira.
Lampião
➽Tropa de elite:Os bandos eram sempre pequenos, de no máximo 10 a 15 homens. Isso garantia a mobilidade necessária para a realização de ataques-surpresa e para bater em retirada em situações de perigo.
➽Calada da noite: Em vez de se deslocar a cavalo por estradas e trilhas conhecidas da polícia, percorriam longas distâncias a pé em meio à caatinga, de preferência à noite. Para evitar que novas vias de acesso ao sertão fossem abertas, assassinavam trabalhadores nas obras de rodovias e ferrovias.
➽Os apetrechos: Todos os pertences do cangaceiro eram levados pendurados pelo corpo. Como não se podia carregar muita bagagem, dinheiro e comida eram colocados em potes enterrados no chão, para serem recuperados mais tarde.
➽Raposas do deserto:Cangaceiros eram mestres em esconder rastros. Alguns truques: usar as sandálias ao contrário nos pés. Pelas pegadas, a polícia achava que eles iam na direção contrária (detalhe); andar em fila indiana, de costas, pisando sobre as mesmas pegadas, apagadas com folhagens; pular sobre um lajedo, dando a impressão de sumir no ar.
➽Peso morto:Com exceção de sequestrados, quase nunca faziam prisioneiros em combate, pois isso dificultaria a capacidade de se mover com rapidez. Também não mantinham colegas feridos ou com dificuldade de locomoção.
➽Seu mestre mandou: Para resolver discórdias internas no bando, Lampião sempre planejava um grande ataque. Todos os membros do grupo se uniam contra o inimigo e deixavam de lado as divergências entre si.
➽Os infiltrados: Quem dava abrigo e esconderijo aos cangaceiros era chamado de coiteiro e agia em troca de dinheiro, de proteção armada ou mesmo por medo. Coiteiros que traíam a confiança eram mortos para servirem de exemplo.
➽Rota de fuga:As principais áreas de ação do cangaço eram próximas às fronteiras estaduais. Em caso de perseguição, eles podiam cruzá-las para ficar a salvo do ataque da polícia local.
➽Fogo amigo e inimigo: Durante os combates, havia uma regra fundamental: em caso de retirada, nunca deixar armas para o inimigo; nas vitórias, apoderar-se do arsenal dele.
O bando de Lampião
A saga de Lampião na caatinga
➽1898:Virgulino Ferreira da Silva nasce em 4 de junho, na comarca de Vila Bela, atual Serra Talhada, Pernambuco. É o terceiro dos nove filhos de José Ferreira e Maria Lopes.
➽1915:Começa a briga entre a família Ferreira e a do vizinho José Saturnino.
➽1920:José Ferreira é morto. Virgulino e três irmãos (Ezequiel, Levino e Antônio) entram para o cangaço. Durante um tiroteio em Piancó (PB), ele é ferido no ombro e na virilha: são as primeiras cicatrizes de uma série que colecionará na vida.
➽1922:Sinhô Pereira abandona o cangaço e Lampião assume o lugar do chefe. A primeira grande façanha é um assalto à casa da baronesa Joana Vieira de Siqueira Torres, em Alagoas.
➽1924: Toma um tiro no pé direito, em Serra do Catolé, município de Belmonte (PE).
➽1925: Fica cego do olho direito e passa a usar óculos para disfarçar o problema.
➽1926: Visita Padre Cícero no Ceará e recebe a patente de capitão do “batalhão patriótico”, encarregado de combater a Coluna Prestes. Em Itacuruba (PE) é ferido à bala na omoplata.
➽1927: Ataque do bando a Mossoró (RN). A cidade resiste. É uma das maiores derrotas de sua carreira.
➽1928:A ação da polícia de Pernambuco faz com que atravesse o rio São Francisco e passe a agir preferencialmente na Bahia e em Sergipe.
➽1929:Primeiro encontro com Maria Bonita, na fazenda do pai dela, em Malhada do Caiçara (BA).
➽1930: Maria Bonita torna-se sua mulher e ingressa no bando. O governo da Bahia oferece uma recompensa de 50 contos de réis para quem o entregar vivo ou morto. Em Sergipe, é baleado no quadril.
➽1932: Nasce Expedita, sua filha com Maria Bonita.
➽1934: Eronildes Carvalho, capitão do Exército e coiteiro de Lampião, é nomeado governador de Sergipe.
➽1936: O libanês Benjamin Abraão, ex-secretário de Padre Cícero, convence Virgulino a se deixar filmar no documentário Lampeão. O filme é recolhido pelo Estado Novo.
➽1938: Em 28 de julho, o bando é cercado em Angico (SE). Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros são assassinados.
Aí está um pouco do relato histórico sobre a vida e morte de Lampião e seus colegas de cangaço.
Nos próximos dias estaremos com um documentário sobre a vida de Maria de Déa ou Maria Bonita, como ficou conhecida.