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ALEXANDRE TENÓRIO - ESCRITOR |
ERA
TEMPO DOS VALENTÕES “FINAL”
A notícia tinha de ser dada a sua mãe dona Isménia, uma
senhora idosa, muito sofrida na vida.
Minha comadre Terezinha do vidro e sua irmã Zenaide foram à
pessoa escolhida para esta tarefa.
Disseram que ele tinha entrado numa confusão e tinha se
ferido no pé, ela não acreditou, então elas foram aumentando a gravidade da
lesão até dizer a verdade.
Dona Isménia, então pegou em um retrato da parede um bilhete
e o rasgou, o picotou de uma maneira que não dava para juntar os pedaços –
minha comadre Terezinha perguntou a ela o que era aquele papel e ela disse que
não podia dizer – morreu com ela este segredo.
Quero retificar o dia da morte de Melck, não foi numa
sexta-feira e sim num domingo, quem estava com ele na hora do assassinato era
Junior galego filho da minha comadre Terezinha.
A morte de Melck comoveu a nossa cidade, todos sabiam que
Melck tinha sido em vida mais vitima do que réu. Melck era para estar conosco,
vivendo sua velhice ao lado de sua família, e sendo apontado na rua como uma
lenda viva de uma época que se brigava na perna e na mão, era uma época de
cabra macho, assim era Melck um cabra macho, não tinha medo de nada nem de
ninguém, foi sem sombra de duvida o mais valente de todos os bom-conselhenses.
Os seus familiares que se encontram vivo, devem sentir
orgulho dele, pois em toda sua vida, jamais matou ninguém, jamais tirou
liberdade com uma moça ou mulher casada, as confusões que teve era com gente
que merecia levar cassete mesmo.
Se Melck tivesse tido um tratamento psicológico, ele estaria
vivo até hoje. Eu estava em Recife estudando quando minha avó Berenice
telefonou para mim dizendo da morte de Melck, eu devo confessar que eu senti
como se fosse um ente querido, pois eu enxerguei ali, o fim de uma época
romântica, ele foi sem sombra de duvida o mais romântico valentão que nossa
cidade já teve.
Quero dizer aos seus familiares que era necessário resgatar a
história de Melck, pois a história de Melck ela se confunde com um período
muito turbulento de nossa cidade.
Estes escritos iram fazer parte do livro “ASSIM ERA MINHA
CIDADE” a o nome de Melck será sempre lembrado por gerações afim, como o mais
belo e valente bom-conselhense.
Para finalizar estes escritos, devo lembra que Benoné seu
irmão e meu parente, certa feita em minha loja (local que ele freqüentava toda
vez que vinha a Bom conselho), comentando comigo disse que a história de Melck
dava um livro, e é isto que eu estou fazendo tentando resgatar as histórias de
Melck.
Benoné seu irmão um dos homens mais valente que nossa cidade
já teve, nunca conseguiu se recuperar da perda do irmão, toda vez que nós nos
encontrávamos ele tocava no assunto, pois para ele, Melck era aquele menino que
ele sempre protegeu, e que tinha orgulho da boniteza dele e da forma elegante
que ele se vestia e andava.
Para você meu amigo Melck, que tantas vezes vi trocando
livrinhos com meu avô, e que para nós jovens era motivo de orgulho, todos nós
no intimo queríamos ser como ele, andar como ele, vestir como ele, arrumar
confusão como ele...
Descanse em paz onde você estiver juntamente com sua mãe dona
Isménia, seu pai Moises e seu irmão Benoné.
Não poderia deixar de dizer que sua irmã Inês foi uma das
mulheres mais bonita que nossa cidade já teve.