GERALDO GUILHERMINO
Todos os bom-conselhenses das décadas de 70 e 80 ouviram
falar de Geraldina. Geraldo como era seu nome de batismo, nasceu no distrito de
Santa Terezinha (hoje a cidade de Terezinha). Desde cedo que ele tinha
tendência para brincar de boneca, por mais que o pessoal insistisse com boi de
barro, bola, carro, ele só tinha olhos para as bonecas. A família fez de tudo
para mudar o hábito dele, mas não teve jeito. Depois de um certo tempo, o jeito
foi aceitar ele como ele era. Geraldo era muito estudioso e inteligente, pegava
as coisas com facilidade. A família se mudou para Bom Conselho para que ele
terminasse os estudos. Geraldo começou a costurar e em pouco tempo passou a ser
o melhor costureiro de roupa masculina de nossa cidade. Naquela época a moda
era conjunto de calça e camisa do mesmo tecido. A camisa tinha 4 bolso na
frente, a calça era boca de sino, e quem estivesse vestido desta forma estava
elegantemente vestido, e para completar o figurino, usava um sapato cavalo de
aço (este sapato era com o salto de 5cm bem grosso) e uma bolsa capanga
pendurada no ombro.
Geraldo passou a ter seus trabalhos requisitado por pessoas
de outras cidades, devido a perfeição de seus conjuntos.
Geraldo era de cor branca, cabelos começando a ralear e um
pouco compridos, vestia calça bem justa, gostava de usar camisa de renda de
manga comprida, e sempre usava um lenço ao redor do pescoço.
Geraldo foi a primeira pessoa assumidamente homossexual de
nossa cidade, no início causou espanto, depois as pessoas se acostumaram com
ele e realmente as pessoas passaram a não levar isto em consideração. Geraldo
tinha uma personalidade forte, e embora fosse homossexual ele impunha respeito,
e não viesse com brincadeira com ele que a pessoa ouvia poucas e boas.
Uma mesa de bar com Geraldo era uma beleza, pois o seu jeito
afeminado e sua maneira de falar, era motivo de graça e alegria para todos.
Tinha uma língua ferina, porém era respeitado por todos e Bom Conselho inteiro
gostava dele.
Na casa dos meus pais, todo aniversário que existia, ele era
o primeiro a ser convidado, mamãe gostava muito dele, e quando demorava a ter
festa lá em casa, ao se encontrar com mamãe perguntava – Miriam você já olhou
direitinho as certidões de nascimento dos meninos, pois já faz muito tempo que
não se comemora um aniversário.
Geraldo devido o seu trabalho não tinha concluído o segundo
grau, então certo dia resolve fazer o curso MADUREZA, que era ministrado no
Colégio Souto Filho. O MADUREZA era um curso para pessoas mais velhas que não
tiveram tempo de terminar o segundo grau, ele era administrado a noite, e era
muito frequentado, varias pessoas se formaram depois de terminar o MADUREZA.
Geraldo termina o MADUREZA e resolve fazer o vestibular para professor
na faculdade de Arcoverde, para supressa de todos, Geraldo é aprovado no
vestibular. Depois de concluir a faculdade ele vai ser professor nos colégios
CERU e São Geraldo.
Segundo sua irmã dona Eli (a quem eu tenho uma grande
consideração) Geraldo tinha um sonho de ser PROMOTOR PÚBLICO e para isto era
necessário ter o curso de DIREITO, então ele resolve fazer o vestibular na
faculdade de Caruaru e surpreendentemente passa em Direito.
Geraldo tinha uma enorme facilidade de expressão, e isto é um
requisito fundamental para o exercício da advocacia.
Geraldo foi auxiliar Dr. José Maria Pereira de Melo, que
naquela época era o melhor advogado de nossa cidade. Eles formavam uma dupla
diferente, pois todos nós sabemos da virilidade de Dr. José Maria, como
sabíamos da feminilidade de Geraldo.
Geraldo tinha um corcel cor Laranja, e não era um grande
motorista, tinha a mania de colocar a cabeça do lado de fora do carro para ver
melhor quem vinha de sentido contrário.
Num dia de domingo surge a notícia, que Geraldo tinha sido
encontrado morto a margem da Pe-218 dentro do seu carro, ele tinha um
afundamento no crânio. Logo de imediato surgiu a conversa que ele tinha sido
assassinado, versão que logo foi desfeita pela polícia, o que tinha realmente
acontecido foi que ele indo em direção a Garanhuns a uma certa hora da noite,
coloca a sua cabeça para fora do carro para melhor enxergar, nisto vem uma
carreta em alta velocidade e um daqueles ganchos que fica na carroceria pegou
na sua cabeça, fazendo com que o seu carro batesse numa barreira e ali ficasse
parado até a manhã do domingo.
Bom Conselho inteiro lamentou a morte precoce aos 42 anos de
Geraldo, e com o desaparecimento de Geraldo nossa cidade perdeu o seu melhor
alfaiate e um pouco da sua alegria
A sua genitora ainda se encontra viva, morando na Rua Barão
do Rio Branco, ela nunca se recuperou da perda de Geraldo, pois ele era um
excelente filho.
Vai aqui a minha homenagem a este que durante sua existência
aqui na nossa cidade só levou alegria para as pessoas, e sua ausência fez muita
falta a todos.